21 outubro 2010

Dilma e a Mídia: escandalo, homofobia e sensacionalismo

Perfeita a colocação da Profa. Ms Marcela Soares* ao comentar o post Sacanagem, fofoca, sexo, violência e putaria. Aliás é uma honra receber um comentário significativo vindo de uma professora da Universidade de Brasília e Doutoranda em Serviço Social pela UFRJ.

Apesar de assistirmos a vários movimentos em prol da liberdade sexual e grande parte da mídia noticiar favoravelmente acerca deste tema, ainda existe - e muito - o preconceito ao homosexual.

No meu ponto de vista, a mídia explorou este assunto (Dilma e amante) de duas formas: a primeira é a que Marcela citou, com o objetivo de ressaltar a opção sexual da Dilma para "denegrir" sua imagem perante a maioria da população, que ainda é homofóbica; a outra parte é ainda com o mesmo intuito, mas sob outra perspectiva.

Por ser candidata a presidência da República, todos os acontecimentos em torno da Dilma formarão os elementos e princípios que, em conjunto, se apresentarão como valores-notícia bastante atraentes para a mídia. Para tais valores-notícia, eu os colocaria na categoria “substantiva”, onde ligam-se ao acontecimento em si e seus personagens, e subdividindo-os, ainda, enquanto a “importância” e “interesse”.

No que tange a “importância”, o item a ser considerado seria o “grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento” – se personalidades famosas, há maior noticiabilidade, independentemente da opção sexual (já vimos vários casos de políticos, jogadores de futebol, artistas, personalidades em geral virarem noticia por caso parecido, mesmo sendo heterossexual).

Enquanto ao “interesse”, esta perspectiva apresenta situações menos claras e aparentes, resultando quase sempre de situações complexas. Para Hohlfeldt, a avaliação e categorização depende muito da perspectiva que os jornalistas têm de seu público receptor e de seus interesses, ainda que, em geral, verifica-se que os jornalistas confundem os seus interesses e valores como sendo os do seu receptor (2010 : 210). A noticiabilidade do caso Dilma e amante vem da “capacidade de entretenimento” partindo do pressuposto de que o inusitado, o inesperado, sempre atrai. Assim, destaque de algum membro da elite social – seja ela política, econômica, estrelato, etc. -, inversão de papéis sociais ou efeitos excepcionais são elementos de valorização para o entretenimento, que corresponde à quebra de padrões e à capacidade de atrair e prender a atenção do receptor. Outro item a ser considerado enquanto noticiabilidade de “interesse” é o do “interesse humano”, citado por Hohlfeldt como uma das categorias mais valorizadas tradicionalmente no jornalismo, pois envolve tanto campanhas beneméritas quanto pode descambar, facilmente, para o sensacionalismo.

Não deixando de lado o valor ideológico implícito, como o citado pela Marcela Soares, concluo, assim, que o principal motivo de se noticiar acontecimentos desta natureza vem do objetivo de atrair uma quantidade significativa de receptores, considerando a notícia como produto de consumo, vendável, rentável financeiramente para as organizações de comunicação que sobrevivem da comercialização da informação. Quanto mais leitores, mais anunciantes.
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*Marcela Soares é Professora do Departamento de Serviço Social da UnB. Possui graduação em Serviço Social pela UFRJ. Doutoranda em Serviço Social pela UFRJ. Atualmente coordena o grupo de estudos e pesquisa Terra e Trabalho - SER/UnB. É integrante do Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo- CFCH/UFRJ e do Grupo de pesquisa de Políticas Públicas: Entre o Estado e o Terceiro Setor/UFRJ.

Blog da Marcela Soares: A libertação é um ato histórico
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