27 outubro 2010

"O sistema é foda”... e a sociedade é uma merda

“O sistema é foda”. Esta frase de impacto, dita pelo Coronel Nascimento no filme “Tropa de Elite 2, o inimigo agora é outro”, de José Padilha e estrelado por Wagner Moura, foi uma das mais marcantes do ano. O filme revela todo um esquema de corrupção e manipulação que políticos adotam para controlar a sociedade e manter o tal “sistema” em funcionamento. Mas vou ultrapassar a esfera política e ir mais longe: no campo da economia e da sociedade.

O sistema economico em que vivemos, a meu ver, é o grande manipulador e incentivador destas práticas corruptas, pois tudo gira em torno do dinheiro e, conseqüentemente, do status social. Esta afirmação peremptória é confirmada por uma série de práticas sociais quem vem acontecendo na história da humanidade. Para se manter no poder, ou em uma classe mais favorável e aceita pela maioria, as pessoas estão dispostas a tudo.

Um outro lado negativo causado pelo sistema, e praticado pela sociedade, é importante ressaltar. O individuo que não consegue êxito financeiro e conquistas materiais é conceituado como fracassado pela sociedade. Ou, então, ele mesmo se identifica assim, gerando um complexo de inferioridade perante as pessoas com as quais se relaciona, já que estas, por sua vez, gozam de condições melhores.

O sistema faz isso. Divide as pessoas em classes. Cria estereótipos imaginários que se transformam em cognições disfuncionais. O resultado, para os que ainda não estão no status aceitável por uma certa classe, é a solidão, o isolamento e a idéia de que é um fracassado. O teórico norte-americando Walter Lipmann cita que “as pessoas avaliam a realidade externa enquanto imagens pintadas em seus cérebros que raramente correspondem ao que a realidade efetivamente é. E essas imagens vão-se tornando, com o passar do tempo, cada vez mais estabelecidas, estandardizadas”¹, ou seja, estereotipadas. Se você não segue um padrão estabelecido, estereotipado, por uma certa classe social, você não faz parte dela.

É isso que o sistema quer: diferença social, classes divididas, antagônicas. Para Alexis de Tocqueville, primeiro estudioso a verificar plenamente a força da opinião pública, “quando as classes sociais são desiguais e os homens diferentes uns dos outros em sua condição, (...) a multidão mergulha na ignorância e no preconceito. Os homens que vivem nestas épocas aristocráticas são por isso induzidos naturalmente a configurar suas opiniões segundo o modelo de uma pessoa superior, ou de uma classe superior de pessoas”. Para não sentirem-se inferiorizados e elevar o padrão social com o aumento da situação financeira, os indivíduos se submetem a fazer coisas que não são, muitas vezes, corretas, como no caso do filme. Por outro lado, até fazem coisas corretas, mas não de seu agrado. Podemos tomar como exemplo a enxurrada de profissionais qualificados que se trancam em bibliotecas em busca de uma aprovação num concurso público, pois o mercado não é capaz de pagar o suficiente para mantê-lo na classe desejada. Assim, muitas vezes, se prestam a trabalhar em área totalmente diferente da que realmente lhe agrada, só para manter um status social.

Essa é uma necessidade do homem capitalista. A sociedade impõe esse comportamento. O francês Gabriel Tarde, em seu livro “O publico e a multidão”, mostra a necessidade que os seres humanos sentem de mostrar-se em público num comportamento de acordo com o dos demais. Faço um deslocamento dessa idéia do “comportamento” para o nível social. Estendo essa necessidade de simultaneidade e interação para o plano financeiro financeiro, que, conseqüentemente, gera um status propicio para um determinado público.

O poder de uma pessoa é medido pelo seu status. O status é revelado pelo volumoso extrato (bancário). É essa a tônica do sistema. É esse o conceito aceito pela sociedade. Por isso que o sistema é foda e a sociedade é uma merda.


1 HOHLFELDT, Antonio. "Hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação". In: A.HOHLFELDT. A. MARTINO, L.C.; FRANÇA, Vera V. Teorias da Comunicação: conceitos, escolas e tendências. (org) Vozes. Petrópolis, 2001.
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