O debate[1]sobre o livro Elite da Tropa 2, realizado na última quinta-feira, dia 04 de novembro, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, revelou um mito que surgia nos bastidores do público espectador: perguntei a Luiz Eduardo Soares, autor do livro, se haveria uma continuação e a resposta não foi animadora para os fãs do Bope.
Luiz Eduardo começou agradecendo as pessoas envolvidas no projeto de construção do livro, os co-autores Rodrigo Pimentel, Andre Batista e Claudio Ferraz. Contou sobre o desafio em produzir um livro seqüencial sem a redundância e clichês formados pelo anterior. Uma revelação curiosa – e que poucos tem conhecimento - foi saber que Elite da Tropa 2 foi o encerramento de uma trilogia, iniciada com o livro “Cabeça de Porco”[2], onde fora escrito com a participação de MV Bill e Celso Athayde. Essa trilogia, segundo Soares, buscou fazer passagens em universos diferentes da sociedade, mas que são confluentes no aspecto violência urbana. O primeiro passo foi relatar sobre crianças e jovens que vivem no mundo do crime, suas razões e a dimensão humana de suas vidas. O propósito do livro era traçar um painel realista sobre a violência instalada no Brasil; o segundo passo revelou o universo dos policias - o que originou o filme Tropa de Elite; e por fim, Soares fecha a trilogia com o Elite da Tropa 2, em que a narrativa gira em torno dos gabinetes, da politicagem.
Cristiane Costa, professora e coordenadora de Jornalismo da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, levantou uma questão interessante a respeito da difícil tarefa de catalogar o livro em ficção ou não ficção, pois afirma que a narrativa se assemelha muito a um jornalismo literário, em que a notícia utiliza-se da perspectiva subjetivista e do uso de técnicas da literatura na captação, redação, edição de reportagens e ensaios jornalísticos.
Outra discussão levantada pela professora Cristiane Costa foi saber o papel do narrador na construção do livro: quem conta melhor a história? É quem observa ou é quem a vive? Soares discorreu a respeito da construção do livro para responder estes questionamentos. Disse que fez um levantamento de dados e todo um material, como inquéritos, entrevistas, relatórios de detetives e inspetores. Antes mesmo de apurar todos os dados, já havia determinado qual seria o foco temático empírico, no caso a questão da milícia.
Os outros participantes Renato Lessa, professor da UFF, e José Eisenberg, professor da Faculdade de Direito (FD) da UFRJ, abordaram temas mais acadêmicos e cognitivos. Todos com pós-doutorado, entraram em uma perspectiva bastante apurada, que foge da linha empírica e passa a caminhar pelo processo epistemológico de todo o saber. Foi uma belíssima discussão. Foi interessante e estimulante ver intelectuais altamente capacitados e gabaritados discutindo um livro que entrou para a história ao ser base de construção de um filme recorde de bilheteria.
Quando chegou a vez da platéia fazer perguntas não me contive e levantei a mão. Indaguei a respeito das influencias que o filme poderia trazer em certos grupos sociais, pois o cinema é capaz de gerar reflexões diversas acerca de um tema polemico como o de Tropa. Claro, antes de entrar no assunto, lembrei que era praticamente impossível falar do livro sem mencionar o filme.
A outra pergunta que fiz é que me deixou um pouco triste pela resposta. Perguntei para o Luiz Eduardo Soares se essa trilogia não daria continuidade para uma tetralogia, pois os filmes nos revelaram um personagem com bastante empatia para o público. Um personagem que criou no imaginário coletivo dos brasileiros o símbolo de um herói. O Coronel Nascimento, que no filme anterior era o Capitão, deixou grande parte do público com uma imagem positiva da policia. Antes admirávamos Mané Galinha, Zé Pequeno, Willian da Silva Lima (que foi o personagem que originou o filme 400 Contra Um), entre outros. Soares disse que Elite da Tropa 2 seria realmente o fim. Não haveria continuidade na saga do Nascimento. Vamos recordar suas histórias revendo os filmes.
Mas uma esperança ainda resta. Antes de finalizar sua resposta à minha pergunta, Soares disse que José Padilha lhe ligou e revelou que está com algumas boas idéias na cabeça. E quando essa gente tem idéias elas se materializam.
Vamos aguardar...
______________Luiz Eduardo começou agradecendo as pessoas envolvidas no projeto de construção do livro, os co-autores Rodrigo Pimentel, Andre Batista e Claudio Ferraz. Contou sobre o desafio em produzir um livro seqüencial sem a redundância e clichês formados pelo anterior. Uma revelação curiosa – e que poucos tem conhecimento - foi saber que Elite da Tropa 2 foi o encerramento de uma trilogia, iniciada com o livro “Cabeça de Porco”[2], onde fora escrito com a participação de MV Bill e Celso Athayde. Essa trilogia, segundo Soares, buscou fazer passagens em universos diferentes da sociedade, mas que são confluentes no aspecto violência urbana. O primeiro passo foi relatar sobre crianças e jovens que vivem no mundo do crime, suas razões e a dimensão humana de suas vidas. O propósito do livro era traçar um painel realista sobre a violência instalada no Brasil; o segundo passo revelou o universo dos policias - o que originou o filme Tropa de Elite; e por fim, Soares fecha a trilogia com o Elite da Tropa 2, em que a narrativa gira em torno dos gabinetes, da politicagem.
Cristiane Costa, professora e coordenadora de Jornalismo da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, levantou uma questão interessante a respeito da difícil tarefa de catalogar o livro em ficção ou não ficção, pois afirma que a narrativa se assemelha muito a um jornalismo literário, em que a notícia utiliza-se da perspectiva subjetivista e do uso de técnicas da literatura na captação, redação, edição de reportagens e ensaios jornalísticos.
Outra discussão levantada pela professora Cristiane Costa foi saber o papel do narrador na construção do livro: quem conta melhor a história? É quem observa ou é quem a vive? Soares discorreu a respeito da construção do livro para responder estes questionamentos. Disse que fez um levantamento de dados e todo um material, como inquéritos, entrevistas, relatórios de detetives e inspetores. Antes mesmo de apurar todos os dados, já havia determinado qual seria o foco temático empírico, no caso a questão da milícia.
Os outros participantes Renato Lessa, professor da UFF, e José Eisenberg, professor da Faculdade de Direito (FD) da UFRJ, abordaram temas mais acadêmicos e cognitivos. Todos com pós-doutorado, entraram em uma perspectiva bastante apurada, que foge da linha empírica e passa a caminhar pelo processo epistemológico de todo o saber. Foi uma belíssima discussão. Foi interessante e estimulante ver intelectuais altamente capacitados e gabaritados discutindo um livro que entrou para a história ao ser base de construção de um filme recorde de bilheteria.
Quando chegou a vez da platéia fazer perguntas não me contive e levantei a mão. Indaguei a respeito das influencias que o filme poderia trazer em certos grupos sociais, pois o cinema é capaz de gerar reflexões diversas acerca de um tema polemico como o de Tropa. Claro, antes de entrar no assunto, lembrei que era praticamente impossível falar do livro sem mencionar o filme.
A outra pergunta que fiz é que me deixou um pouco triste pela resposta. Perguntei para o Luiz Eduardo Soares se essa trilogia não daria continuidade para uma tetralogia, pois os filmes nos revelaram um personagem com bastante empatia para o público. Um personagem que criou no imaginário coletivo dos brasileiros o símbolo de um herói. O Coronel Nascimento, que no filme anterior era o Capitão, deixou grande parte do público com uma imagem positiva da policia. Antes admirávamos Mané Galinha, Zé Pequeno, Willian da Silva Lima (que foi o personagem que originou o filme 400 Contra Um), entre outros. Soares disse que Elite da Tropa 2 seria realmente o fim. Não haveria continuidade na saga do Nascimento. Vamos recordar suas histórias revendo os filmes.
Mas uma esperança ainda resta. Antes de finalizar sua resposta à minha pergunta, Soares disse que José Padilha lhe ligou e revelou que está com algumas boas idéias na cabeça. E quando essa gente tem idéias elas se materializam.
Vamos aguardar...
[1] O debate foi organizado pelo Fórum de Ciência e Cultura (FCC) e o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE). O local foi o Salão Dourado, no campus da UFRJ na Praia Vermelha. Estavam presentes Cristiane Costa, professora e coordenadora de Jornalismo da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, Renato Lessa, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutor em Ciências Políticas pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), e José Eisenberg, professor da Faculdade de Direito (FD) da UFRJ e doutor em Ciências políticas pela Universidade de Nova York.
[2] “Cabeça de Porco” foi resultado de um trabalho de entrevistas e filmagens feitas nos últimos 15 anos em favelas de nove estados brasileiros sobre crianças e jovens que vivem no mundo do crime, suas razões e a dimensão humana de suas vidas. O propósito do livro era traçar um painel realista sobre a violência instalada no Brasil.
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